29/09/2008




Os dez estados de vida


O budismo ensina que o ser humano experimenta a cada instante de sua existência dez condições ou estados de vida. Esses estados, classificados como Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bothisattwa e Buda, descrevem as sensações subjetivas experimentadas pelo “eu” no âmago da vida.
No escrito “O objeto de devoção para observar a mente, estabelecido no quinto período de quinhentos anos após o falecimento do Buda”, Nitiren Daishonin explica que raiva é ‘estado de inferno’. A pessoa, quando dominada pelo impulso da raiva, é levada a destruir a si e aos outros. É quando essa pessoa experimenta sofrimento e desespero extremos.
A ganância é o ‘estado de fome’. A pessoa é dominada por desejos egoístas e ilimitados de riqueza, fama e prazer, os quais nunca são realmente satisfeitos.
A insensatez é o ‘estado de animalidade’. Nesse estado, a pessoa vive em função de seus desejos e pulsões, sem ter sabedoria para se controlar.
A maldade é o ‘estado de ira’. Apesar de ter consciência do próprio “eu”, a pessoa mostra-se egoísta e não consegue compreender as coisas como elas são exatamente e menospreza e viola a dignidade dos outros.
A serenidade é o ‘estado de tranqüilidade’. Nesse estado, a pessoa consegue controlar temporariamente os próprios desejos e impulsos fazendo uso da razão, levando uma vida pacífica, em harmonia com o meio ambiente e com as outras pessoas.
Daishonin diz que a felicidade é o ‘mundo da alegria’. É uma condição de contentamento e alegria dos sentidos quando a pessoa se liberta do sofrimento e satisfaz algum desejo.
Esses seis primeiros estados, de Inferno a Alegria, são manifestados por meio de impulsos ou desejos, mas não totalmente controlados pelas restrições impostas pelo ambiente e são também extremamente vulneráveis às circunstâncias instáveis.
O ‘estado de Erudição’ é uma condição experimentada quando a pessoa se empenha para conquistar um estado de contentamento e de estabilidade duradouros por meio da auto-reforma e do desenvolvimento. É o estado no qual a pessoa se dedica a criar uma vida melhor pelo aprendizado das idéias, conhecimento e experiências tanto dos predecessores quanto dos contemporâneos.
O ‘estado de Absorção’ é semelhante ao estado de Erudição. Contudo, o que os distingue é que no estado de Absorção tenta-se compreender o caminho da auto-reforma por meio da observação direta dos fenômenos e não pela realização de seus predecessores.
Bodhisattwa é um estado de compaixão em que o indivíduo devota-se à felicidade do outro, mesmo que, para tal, tenha que fazer sacrifícios. As pessoas nos estados de Erudição e Absorção tendem a carecer de compaixão, chegando a extremos na busca de sua própria perfeição. Em contraste, um bodhisattwa descobre que o caminho para a auto-perfeição encontra-se unicamente na compaixão, ou seja, no desejo sincero de salvar o outro do sofrimento.
Buda é uma condição alcançada quando se obtém a sabedoria para compreender a realidade máxima da própria vida, a infinita compaixão para direcionar constantemente as atividades para objetivos benevolentes, o eu eterno perfeito e a total pureza da vida que nada poderá corromper.
É uma condição experimentada nas profundezas do próprio ser ao se empenhar continuamente com benevolência na vida quotidiana. Em outras palavras, o estado de Buda aparece na vida diária com as ações de um bodhisattwa – boas ações e atos benevolentes.
De acordo com o princípio budista dos Dez Estados de Vida, as pessoas têm a tendência básica de permanecer mais em um ou mais estados e ela determina o nível de vida da pessoa – baixo, intermediário ou elevado. Quando a pessoa começa a elevar sua condição de vida por meio de recitação do NAM-MYOHO-RENGUE-KYO, inicia-se seu processo de transformação de vida ou revolução humana.
O propósito da prática do Budismo Nitiren é elevar a condição básica da vida e estabelecer o estado de Buda como estado fundamental. Mas isso não significa que os outros nove estados não se manifestem, pois eles são essenciais na vida de todo ser humano. Afinal, somente uma pessoa que já experimentou o inferno em vida pode entender o sofrimento alheio. Sem os impulsos básicos, representados pelos estados de Ira e Animalidade, o ser humano também não se esforçaria nem para obter comida e abrigo nem para reproduzir. Assim, estaria comprometendo a perpetuação da espécie humana na terra.
A diferença é que esses estados inferiores não mais controlarão a vida dessa pessoa e se tornarão aspectos benéficos para ela e para as pessoas ao seu redor, como no exemplo de manifestar o estado de Ira para importar-se e lutar contra as injustiças sociais.


Artigo baseado em Fundamentos do Budismo (2004).

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