01/11/2008

“Caras-pintadas” reaparecem no RJ

A guerra suja que marcou a eleição municipal no Rio levou na sexta-feira dois mil jovens às ruas do centro da cidade para pedir punição aos crimes eleitorais, numa mobilização política diferente. Sem lideranças formalmente constituídas ou o suporte de movimentos estudantis, o encontro foi marcado pela internet. Reunidos na escadaria da Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, no início da tarde, eles seguiram em passeata até a sede do Tribunal Regional Eleitoral, onde protocolaram um abaixo-assinado pedindo rigor na apuração das denúncias de boca de urna, fraudes, uso da máquina e campanha negativa apócrifa que acreditam terem influenciado o resultado da eleição. O candidato do PV, Fernando Gabeira, perdeu para Eduardo Paes (PMDB) por menos de 2% dos votos.
Embora a maioria se identificasse como eleitora de Gabeira e atribuir o jogo sujo a Paes, os manifestantes fizeram questão de rechaçar qualquer ligação com políticos, partidos e entidades de classe, insistindo em chamar a ação de "apartidária". Apesar da contradição, as referências a políticos foram mesmo proibidas. Uma mulher que compareceu com uma bandeira com o nome de Gabeira foi vaiada e obrigada a trocar a camiseta do PV por uma preta, cor que quase todos usavam em protesto. Alguns traziam ainda apitos e narizes de palhaço. Outros pintaram o rosto com as cores do Brasil.

Cartazes que atacavam Paes também foram retocados, mas a maioria ironizava o peemedebista e fazia referência a casos em apuração na Justiça Eleitoral que o teriam beneficiado. Alguns manifestavam a esperança de ver o pleito anulado e outros defendiam apenas punições para que abusos não se repitam.

"Há casos de urnas em que 250 votos desapareceram. Sei que isso não é suficiente para anular uma eleição, mas é preciso analisar todos esses pequenos casos para ver se houve um efeito maior. Não vamos mais aceitar isso", diz João Marinho, de 18 anos, que segurava uma urna de papelão. Tentando vestibular para Administração, ele diz ter escolhido Gabeira para seu primeiro voto por ter encontrado nele uma política diferente, sem cores partidárias. Ele concorda que a mobilização antes do pleito, quando já havia muitas denúncias, poderia ter ajudado seu candidato, mas argumenta que isso destoaria da postura adotada pelo verde de não atacar os adversários.

A estudante secundarista Patrícia Carvalho, de 18, admite que não haveria ato se Gabeira tivesse vencido, mas defende que o objetivo agora é influenciar o futuro. "Tínhamos esperança, por isso não fizemos nada antes. Era o bem contra o mal. Mas não estamos defendendo Gabeira, queremos um novo modo de fazer política. Eu vi muita boca de urna, fiquei indignada. Se Gabeira tivesse feito a mesma coisa para vencer, também estaríamos contra ele."

A falta de um discurso único não impediu a coordenação do movimento, que segue as diretrizes da campanha de Gabeira. Além do uso intensivo da internet, eles não distribuíram panfletos para não sujar a cidade. Ao agradecer o apoio das pessoas que acenavam dos prédios dos escritórios, repreendiam os que jogavam papel picado com vaias e apelos no carro de som. Com surpreendente disciplina, coibiram provocações e conseguiram fazer em frente ao TRE, sentados no chão da Avenida Presidente Wilson, um minuto de absoluto silêncio em protesto. Só não cumpriram a promessa de não bloquear totalmente o trânsito devido à grande concentração, que se desfez calma e rapidamente assim que o fim foi decretado.


Jornal BEMPARANÁ( portal paranaense)

Um comentário:

Luciana Asevedo disse...

Adorei seu post...abraços