05/11/2008




AC/DC está de volta, pesado e cativante como de costume

04.11.08 | 04:24 pm
Novo dos dinossauros do rock australiano já vendeu mais de 90 mil cópias, tendo faturado disco de platina com apenas duas semanas nas prateleiras de seu país; Black Ice é o título mais vendido do ano por lá


Eduardo Ribeiro

Na história do rock'n'roll, é possível descobrir coisas fascinantes. Mas também é de praxe detectar vários casos de plágio descarado, de imitação fajuta, de modinhas requentadas, de janotas que entram nessa porque foi a melhor terapia encontrada pelo caminho. Tem as bandas que valorizam a imagem, e tem as bandas que valorizam a música.

Entre os nomes mais dignos e respeitáveis do rock em todos os tempos, o AC/DC é um que sobe à superfície. Lembram-se quando os Ramones estavam na ativa, e cada disco novo que lançavam era mais do mesmo, e por esta pura e simples razão chegavam às nossas mãos cheios de vida e energia?

Assim sempre foi o AC/DC em todas as suas fases. Todo disco soa parecido, e o motivo não é a falta de imaginação. Pois toda obra, até aqui, emana uma sonoridade que foi praticamente inventada por eles. O AC/DC é influência, não influenciado.

Angus Young é dono de um estilo único de tocar guitarra. Trata-se do mais inquebrantável e fecundo blues acelerado, ganchudo, marcadão e pancada. Sem contar que, mesmo com todo o peso, os caras nunca deixaram de compor refrões memoráveis e cantarolantes. Pense nos nomes que mais contribuíram ao rock, e o combo australiano estará entre as primeiras lembranças.

Black Ice, o primeiro trabalho deles em oito anos, vem servido com 15 pauleiras de primeira qualidade. Curioso o fato de que na gringa o CD só esteja à venda na rede de supermercados Wal-Mart, estratégia que serve para provar o tamanho da popularidade do conjunto. Sob a produção de Brendan O' Brien, o trabalho resgata a sonoridade dos Marshall antigos, cujas guitarras são distorcidas e potentes, mas não perdem em definição nem se afundam em dissonâncias.

A crueza dos anos 70 está de volta ao som do AC/DC, portanto, com direito a uma homenagem ao Led Zeppelin na faixa "Stormy May Day". Angus, pela primeira vez numa gravação, usa slide para tocar o riff da versão que Jimi Page fez para "In My Time of Dying". Para quem não sabe, "In My Time of Dying" é um dos clássicos do blues mais coverizados do começo dos anos 60, originalmente uma canção gospel de Blind Willie Johnson.

Mesmo com esse remonte à sonoridade das antigas, da época em que o AC/DC trabalhou com os produtores Harry Vanda e George Young, irmão mais velho de Angus e do guitarra-base Malcolm, os corinhos pra cantar junto fazendo sinal do capeta com a mão são atemporais.

E O'Brien ainda vai além do produtor Mutt Lange, responsável por dar cara pop ao som de três dos mais vendidos álbuns de Brian Johnson & Cia (Higway to Hell, Back in Black, For Those About to Rock...): trabalha os tais sing-alongs de modo que saíram muito mais melodiosos do que estamos acostumados, menos parecidos com gritos de guerra de torcida masculina.

De resto, "Rock'n'Roll Train", "Smash'n'Grab" e "She Likes Rock'n'Roll" aparecem como verdadeiros hinos de comovente empolgação roqueira. O padrão das bases massivas sobre a cozinha do baixista Cliff Williams e do baterista Phil Rudd é de assustadora simplicidade - descomplicado e fatal como uma martelada bem dada na cabeça.

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