22/11/2008




Obs:(A tela central é de Paulo Thumé)

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AS FILHAS DAS LAVADEIRAS



Marilza vive sem metafísica, nunca reflete sobre a origem das coisas,
nunca conta estrelas, nunca pisa em astros.
Quisera eu assim também viver,
mas fui justamente converter-me em aluno de Álvaro de Campos,
que absurdo!

Enquanto danço com os vultos do nada
a pia da cozinha sem entope de louças sujas,
o assoalho fica coberto de fuligem, de insetos indesejáveis...

Como sou errado, trôpego, sem moral, desligado dos fatos cotidianos
( reforça o que digo Marilza).
E Álvaro de Campos, digo, Edu Planchêz
segue pisando na memória dos ancestrais,
já que supõe que lhe são pedras à fortalecer
os pés em meio aos aguaceiros e lamaçais.

Marilza vive sem metafísica, e deve estar certa,
para que serve os catastróficos versos de Rimbaud na hora crucial do café?
Para que serve as cenas explicitas do paranóico filme de Fellini
durante o pagar das contas?

Álvaro de Campos, casei com a filha da minha lavadeira,
e no entanto não sou feliz, porque tal qual você continuo pensando,
mergulhado em delírios que as filhas das lavadeiras compreendem
que não nos levam a qualquer lugar.

Inúteis são todos os livros, e toda a gama de escritores desocupados
que deveriam vender bananas ou mesmo serem engraxates.
Assim faríamos as filhas das lavadeiras mais felizes, mais fodidas ( talvez?) Melhor desistir de toda utopia e metafísica porque as filhas das lavadeiras amam apenas as roupas, os pregadores, os anéis, as novelas e os baldes.


EDU PLANCHÊZ

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