12/12/2008

(prefácil q escrevi para o livro TAQUARA de João Possidônio Jr que o autor rejeitou, segundo Josie, dizendo que era muito intelectual, complexo. Que pena, escreví com tanta alma!)


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“QUANDO VOLTO, NÃO TENHO MAIS OS MEUS BRINQUEDOS, VILMENTE ROUBADOS POR DUENDES ENGRAVATADOS QUE NEM AO MENOS A PORTA FECHARAM...”

“O limite dos meus sonhos sou eu mesmo.” Vocifera o poeta, o homem e a voz que esse homem arranca das palavras tijolos do tempo vivido por ele mesmo. Encontrei esse poeta emergido na neblina das inspirações, nas entranhas da noite de todas as palavras, nas folhas dos cadernos, nas taboas nada redondas daqueles dias.
“Hoje, eu percebo quantas cercas ainda existem no mundo, feitas não de taquara, mas com os meus limites e medos.” Suas palavras sustentam a premissa que seu tempo é hoje, que as luzes das lembranças passadas se multiplicam pelos cendeiros do vindouro onde habita as novas descobertas.
“No futuro, enxergaremos o passado como uma única peça...” nele haverá apenas personagens e astros espetados num bolo ou numa cebola, mas acabo de lembrar que a cebola é composta de várias camadas e que um bolo pode ser repartido em múltiplos nacos. No fundo essa peça única, se olharmos bem de perto é como um formigueiro, cheia de seres agora microscópios que sob o observar de uma boa lente revela o tem que ser revelado.
” Assim, as imagens das ruas descalças ficam como fotografias no painel iluminado das minhas memórias.” Retratos esses costurados no corpo do homem, do poeta que segue e ao meu ver esbarra em Cora Coralina e cai nos braços cotidianos de Adélia Prado sem percebe ou percebendo.
“Quando volto, não tenho mais os meus brinquedos, vilmente roubados por duendes engravatados que nem ao menos a porta fecharam...” Nesse verso João Possidônio Jr, reflete o sentimento de uma civilização inteira que teve sua inocência roubada pelos valores da pretensa realidade, dura e fria. Diz Raul Seixas: “ A realidade do universo é a prestação que vai vencer.” Atesto essa verdade aqui na minha própria vida, olhando para esses papéis que ainda não estão carimbados pelos lábios do caixa eletrônico.
“Ainda retenho nos dedos o toque macio do cabelo fino da garota da escola.” ”Nos dias de hoje eu te quero vivo...” porque o que foi vivenciado é semente se contorcendo entres os grãos da “terra tombada” pronta para expor suas folhas ao mesmo outro sol de todos os crepúsculos e infâncias. “Não me apaga a luz daquela estrela cadente riscando o escuro do céu, numa noite sem luz e sem postes na rua naquele pequeno canto de terra nua.”
“A poesia vai muito além do poeta”, nem as sombras da morte poderão separar a poesia e o poeta, são dois corpos, duas retas ou pontes que se encontram aqui e para lá dos limites do logos.
Foi me pedido fazer uma apresentação dessa seleção de poemas desse meu irmão João Possidônio Jr, creio que não fui capaz, apenas tentei cometer o poema com ele, fazer apliques pelos cabelos de seus poemas. Que as pessoas leiam com olhos de criança e passarinho o que esse irmão poeta escreveu.
Diz ele: “dividi o livro em partes mas nele me mostro inteiro.” Se queres me conhecer, mergulha com todas as patas nesse redemoinho de versos gestados por essas acrobáticas mãos que pegam a faca para transformar a esférica taquara em sutis varetas.

EDU PLANCHÊZ
Rio de Janeiro, 01 de julho de 2008.

Um comentário:

Juliana Porto disse...

Não há somente força nas palavras que escolhe, há energia.
Tua alma as desenha.
Um retrato perfeito do que chamam de poesia.
Abraços.